10/12/14
CONSTATAÇÃO

Deve haver alguma coisa errada
com a dosimetria das radiações ionizantes, a ver
Até
a Idade Média, enquanto o homem tentou explicar o movimento dos corpos celestes
tendo o planeta Terra como centro do Universo, foi impossível comprovar
qualquer teoria, pois nada fazia sentido.
A
partir do século XVI, quando entrou em voga a teoria heliocêntrica e o Sol foi
finalmente admitido como centro do Sistema, a ciência moderna ganhou forma e
tivemos grandes avanços sociais. A humanidade passou a compreender melhor as
espécies e o meio ambiente em que vive.
Essa
analogia serve para nos levar a crer que deve existir alguma coisa errada na
raiz do sistema utilizado hoje para mensurar os efeitos biológicos das
radiações ionizantes no organismo humano, pois as doses a que está submetida a
maioria dos profissionais e pacientes é superior ao admitido na legislação em
vigor. Especialmente, na norma CNEN
NN.3.01 e na Portaria ANVISA n.º 453/98.
Segundo
a presidenta do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER) Valdelice
Teodoro, existem casos em que uma simples mamografia emite uma dose de radiação
ionizante três vezes superior ao estabelecido como limite para o público geral
em um ano. Nesses casos, fazemos os exames com base no princípio da
Justificação, que permite realizar o diagnóstico por imagem sempre que o
benefício for maior que o risco potencial, admite.
Entretanto,
a mamografia é apenas um exemplo. Se considerarmos os exames de maior
complexidade, como tomografias, tratamentos químio e radioterápicos, entre
outros, a necessidade de ter uma maior clareza sobre o que pode e o que não
pode aumenta.
Necessidade de um novo modelo
Dose
equivalente, dose efetiva, equivalente de dose, milisieverts, miligrays, kerma
no ar, etc. São tantas unidades e medidas que confundem a cabeça de qualquer
um.
É
necessário superar o atual sistema de metrologia das radiações ionizantes e
adotar um conceito mais transparente, que dê aos pacientes e profissionais
informações precisas sobre os riscos decorrentes de cada exame e qual o limite
seguro de exposição no decurso de um ano.
Para
tanto, é necessário um avanço significativo das pesquisas sobre os efeitos
biológicos das radiações ionizantes, para dar respostas sobre a reação de cada
parte do organismo aos efeitos dos raios X. As pessoas precisam entender
necessariamente com o que estão lidando.
Para
Valdelice Teodoro, as instituições responsáveis pela regulamentação da matéria
precisam abrir um debate permanente, com a participação das autoridades e dos
melhores especialistas sobre o assunto, a fim de nos aproximar de um cenário
menos nebuloso.
Em
minha opinião, devemos convencionar uma tabela de doses e riscos, para que as
pessoas saibam ao que estão se submetendo. Sabemos que não é possível fazer
algo plenamente universal, pois o efeito da radiação depende de inúmeras
variáveis. Contudo, acredito que podemos avançar e educar melhor as pessoas se
caminharmos nesse sentido, argumenta a presidenta do CONTER.
A
ciência radiológica se torna mais exata na medida em que conhecemos,
compreendemos e respeitamos as inseguranças. Independente do que aconteça, a
principal constante da metrologia/dosimetria das radiações ionizantes
continuará a ser a variável da incerteza. Para se proteger e cuidar de seus
pacientes, o profissional deve usar o dosímetro e demais equipamentos de
proteção individual (EPI). Afinal, risco zero não existe.