28/02/13
MEDICINA NUCLEAR

Pesquisadores avaliam exposição de pacientes e profissionais à
radioatividade
São inegáveis os benefícios da medicina nuclear. Ela engloba exames de
diagnóstico e tratamentos utilizados no combate ao câncer. Segundo o Banco de
Dados de Instalações Radioativas da Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN), existem atualmente, no Brasil, cerca de 300 serviços de medicina
nuclear, 44 deles instalados no estado do Rio de Janeiro.
Pensando na exposição à qual estão sujeitos os profissionais que atuam
nesse segmento e nas doses de radiofármacos às quais os pacientes são
submetidos, um grupo de pesquisadores do Instituto de Radioproteção e
Dosimetria (IRD), vinculado à CNEN, desenvolveu um projeto intitulado
"Estudo dos fatores que afetam a exposição de pacientes e trabalhadores na
prática da medicina nuclear". O projeto, coordenado pelo pesquisador
Bernardo Maranhão Dantas, contou com recursos do edital de Apoio a Grupos
Emergentes de Pesquisa, da FAPERJ.
Para Bernardo, o principal objetivo do trabalho é disponibilizar
metodologias que permitam otimizar a utilização dos radiofármacos na medicina
nuclear, que é também uma das funções do IRD. No caso dos pacientes, os estudos
estão voltados para que eles recebam a menor dose de radiofármacos possível,
dentro das necessidades de cada exame ou tratamento. Segundo a física Silvia
Maria Velasques, uma das integrantes da equipe, existe uma relação inversa
entre a atividade do elemento radioativo e o tempo que ele demora a se
manifestar no corpo humano. Isso quer dizer que quanto menor a dose de
radiofármacos, maior será o tempo que o paciente terá que esperar para realizar
o exame.
"Além disso, de nada adianta reduzir a quantidade do material
radioativo aplicado e o tratamento não surtir o efeito desejado, ou o exame não
render uma imagem com qualidade", afirma a pesquisadora.
Durante a pesquisa, Silvia acompanhou crianças com problemas renais,
tratadas com iodo 131. "Com elas, devemos ter ainda mais cuidado. A dose
de radiofármacos não pode ser alta a ponto de representar risco significativo
de efeitos tardios no corpo da criança, nem muito baixa, pois os pequenos não
têm paciência para ficar parados o tempo necessário para a obtenção de uma
imagem de boa qualidade no exame", completa.
Segundo a pesquisadora, a maior incidência de problemas renais acontece em
meninos entre cinco e 10 anos. "O iodo 131 é um material que irradia
bastante o rim. O problema é a proximidade dos rins com as gônadas, que são
glândulas muito sensíveis à irradiação. Por isso, devemos calcular muito
criteriosamente a dose nas gônadas durante o tratamento", disse.
A pesquisadora afirma que há cerca de três anos a equipe do IRD vem
estudando um novo protocolo, formulado pela Associação Européia de Medicina
Nuclear. Trata-se de uma nova proposta de cálculo da atividade que é
administrada às crianças, estabelecendo-se novos critérios.
"Antes, considerava-se a proporção da dose de radiofármaco em função do
peso e da idade do paciente. Com o novo protocolo, são incluídos outros
critérios no cálculo da dose a ser administrada: a toxicidade do material e a
qualidade da imagem que poderá ser obtida, que é relativa à dosagem
ministrada", relata Silvia.
Com isso, é possível adequar ainda mais a atividade administrada do
radiofármaco para a geração de uma imagem de boa qualidade.
O uso de determinados elementos radioativos em exames diagnósticos permite
que as imagens apresentem alta definição. Um exemplo é a tomografia por emissão
de pósitrons (PET). Ao ser submetido a esse exame, o paciente é injetado com
uma dose de flúor 18, que emite partículas de pósitrons a antimatéria do
elétron , que interagem com os tecidos do corpo onde ela é emitida,
aniquilando-se imediatamente, e gerando fótons, que são os responsáveis pela
formação da imagem dos órgãos que se deseja avaliar. Entre outras aplicações, o
exame é indicado para diagnóstico de tumores malignos.
Em relação à exposição ocupacional, deve-se ressaltar que os funcionários de
clínicas de medicina nuclear que utilizam flúor 18 necessitam aproximar-se dos
pacientes que receberam uma dose do radiofármaco e, assim, apresentam risco de
exposição externa, como também em todos os demais exames de medicina nuclear.
"Todo profissional que atua em medicina nuclear deve receber o
treinamento adequado em radioproteção, e é sempre recomendável reduzir ao
mínimo possível os riscos de exposição interna e externa", diz o
coordenador Bernardo Dantas.
Pelo que ele observou, os níveis de contaminação interna dos trabalhadores
monitorados até o momento estão abaixo dos limites estabelecidos pelas normas
da CNEN. Para realizar essa avaliação, a química Ana Letícia e sua equipe
empregam equipamentos, como o contador de corpo inteiro que permite que se
identifique e quantifique os radiofármacos presentes no corpo do indivíduo
monitorado.
"Em nosso trabalho, sugerimos que seja implementada uma monitoração
interna rotineira dos trabalhadores da área de medicina nuclear, o que
atualmente não é realizado", propõe Ana.
Para avaliar o nível de contaminação interna dos trabalhadores e a meia-vida
efetiva dos elementos radioativos nos pacientes, o grupo também utiliza
técnicas de bioanálise in vitro, principalmente em urina e fezes.
"A meia-vida efetiva está relacionada ao tempo que o elemento permanece
ativo dentro do corpo do paciente. Com esses exames, podemos determinar esse
parâmetro", explica a química Ligia Castro Julião, responsável pelo
laboratório de bioanálise do IRD.
Análises deste tipo confirmam o que foi observado nas medições diretas,
realizadas no contador de corpo inteiro: que os trabalhadores frequentemente
apresentam contaminação interna por iodo 131, um dos mais importantes
radiofármacos manipulados em medicina nuclear. Tais resultados corroboram a
necessidade de se implementar programas rotineiros de monitoração interna da
exposição ocupacional desses profissionais.
Em termos de exposição externa, atualmente apenas a monitoração de tórax é
obrigatória. Mas as mãos acabam ficando mais expostas do que o tórax e poucos
profissionais usam dosímetros individuais de extremidade, como anéis ou
pulseiras, para medi-la. A análise estatística das doses externas recebidas por
estes trabalhadores, monitorados no estado do Rio de Janeiro durante este
trabalho, revelou alguns valores acima do limite anual de dose ocupacional
estabelecido pela CNEN.
"O que estamos fazendo de diferente é medir meticulosamente as diversas
áreas das mãos para verificar qual a mais atingida pela radiação durante as
diversas etapas dos exames mais comuns de medicina nuclear", informa a
física Claudia Maurício.
FONTE: CONTER