29/01/13
SIRIUS

Brasil iniciará obras do acelerador de elétrons de terceira geração
Deve
começar ainda este ano, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em
Campinas, a construção do novo acelerador de elétrons de terceira geração,
batizado de Sirius.
Capaz de
emitir radiação com maior brilho e gerar imagens com mais resolução que o
atual, de segunda geração, o equipamento poderá atrair para o país cientistas
de destaque no cenário internacional, como a israelense Ada Yonath vencedora
do Nobel de Química em 2009 por seu trabalho sobre a estrutura e a função dos
ribossomos ou o americano Brian Kobilka premiado em 2012 pela descoberta de
um novo receptor celular , afirmou Antonio José Roque da Silva, diretor do
LNLS.
Será uma
facilidade aberta que atenderá às mais diversas áreas da ciência, desde
medicina, biofísica, biotecnologia, biologia molecular e estrutural, até
paleontologia, ciências dos materiais, agricultura e nanotecnologia. Se o
equipamento estiver realmente no estado da arte, vai atrair pesquisadores de
ponta de todo o mundo, disse.
Desde
1997, no LNLS, está aberto para uso em pesquisas externas um acelerador de
elétrons de segunda geração. Atualmente, o laboratório está subordinado ao
Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e conta com 16
estações experimentais, também chamadas linhas de luz, que atendem em torno de
500 grupos de pesquisa por ano.
Uma parte
dos equipamentos das estações experimentais foi adquirida durante projetos
apoiados pela FAPESP, como a linha de luz para biologia molecular estrutural
(MX2) e equipamentos para a linha do wiggler supercondutor.
Único na
América Latina, o síncrotron é capaz de emitir radiação de alto brilho em
diversas frequências, desde infravermelho até raios X. Isso permite estudar a
estrutura atômica que compõe os mais diversos materiais e descobrir como se
distribuem espacialmente e como estão interligados.
"Para
entender a diferença entre os raios X emitidos por uma máquina comum usada na
medicina e a radiação emitida pelo síncrotron, podemos comparar o feixe de luz
de uma lanterna com o de uma ponteira a laser, que tem divergência muito menor, explicou Roque da Silva.
De acordo
com o diretor do LNLS, a mesma analogia pode ser usada para comparar o feixe de
fótons emitido por um acelerador de segunda e um de terceira geração.
A energia
final dos elétrons será mais do que o dobro da atual, que é de 1,37 GeV
(gigaelétron-volt). Além de gerar mais intensidade de luz, o Sirius também
ampliará sua faixa de alcance para os raios X duros (o penúltimo no espectro
eletromagnético, atrás dos raios gama). Isso permitirá penetrar estruturas mais
espessas.
Hoje, ao
estudar as propriedades do aço, por exemplo, só é possível penetrar na camada
mais superficial do material. Com o novo acelerador conseguiríamos atingir de
fato o volume e aprender como os átomos estão organizados, contou Roque da Silva.
A menor
divergência do feixe de fótons, por sua vez, aumentará a resolução das imagens,
possibilitando a realização de medidas de microscopia com precisão nanométrica.
Será possível gerar imagens tridimensionais de uma célula e de suas
organelas, contou.
Na
fronteira
Segundo o
diretor do LNLS, em julho ficará pronto o projeto executivo do novo acelerador,
que contém todas as informações de arquitetura e infraestrutura necessárias
para o início das obras. Estão previstas a construção de até 40 estações
experimentais quase o triplo da capacidade atual.
O
projeto conceitual está concluído. Originalmente ele já era competitivo em
relação aos outros síncrotrons de terceira geração, mas o comitê internacional
de avaliadores nos desafiou a fazer um projeto ainda mais arrojado. Agora ele
traz uma série de inovações que o colocam, de fato, na fronteira tecnológica, afirmou Roque da Silva.
Enquanto
os demais equipamentos do tipo usam o sistema de eletroímãs, o Sirius será
inteiramente baseado no sistema de ímãs permanentes, o que reduz a necessidade
de cabos de alimentação.
Também
fizemos mudanças drásticas na rede magnética e na câmara de vácuo. O feixe de
luz do Sirius estará entre os de maior brilho no mundo, afirmou Roque da Silva.
O custo
previsto do projeto, estimado para terminar em 2016, é de R$ 650 milhões. Até o
momento, segundo Roque da Silva, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI) já investiu cerca de R$ 55 milhões.
O MCTI
considera o Sirius como um dos projetos prioritários para o país e o apoio tem
sido crescente. Mas também estamos buscando outros parceiros, contou Roque da Silva.
O projeto
também conta com apoio do governo do Estado de São Paulo, que se comprometeu a
fazer a desapropriação do terreno de 150 mil metros quadrados onde será
construído o acelerador ao lado das atuais instalações do LNLS.
A
construção do Sirius será, sem dúvida, uma das ações mais importantes do ponto
de vista da internacionalização da ciência. O poder de nucleação de um
laboratório desse porte é enorme, avaliou Roque da Silva.
Fonte: CONTER